sexta-feira, 5 de março de 2010

Egocentrismo penitente

Todas os conceitos conhecidos da matemática, todas as teorias desenvolvidas pela filosofia e todas as outras formas de informações existentes, materiais ou não, pertencem a mim.Eu sou o centro do universo, e este, por sua vez, tem por centro minha imaginação. Afinal, aquele é criação desta, e esta lhe é dona.Logo, não existe nada além de mim. Não pense que menciono meu corpo, matéria passageira e de aspecto estranho. Julgo assim minha mente, o verdadeiro e único "eu".

É como se o mundo fosse um grande teatro, existindo somente quando eu assisto a peça em cartaz, sendo esta encenada unicamente quando é dada minha presença nas cadeiras do público. Eu sou o diretor, pois minha imaginação conta o enredo. Eu sou o público, pois sou o único espectador de tal espetáculo. Os atores secundários e o cenário são projeções de mim mesmo sobre mim.O protagonista, claro, sou eu. Os "acontecimentos" ocorrem ao meu redor e somente por causa de minha presença. Sem mim, o mundo não existiria; ao menos não o meu.

É como se meus atos como ser humano fossem controlados pelo meu consciente.Dia-a-dia, relacionamentos, trabalho. Os fatos do mundo, como guerras e fome, seriam meu subconsciente descontrolado, gritando dentro de mim, querendo me mostrar algo que desconheço e que preciso saber para poder transcender fora deste meu universo, alcançar algo superior, como a divindade, por exemplo.

Constantemente me surpreendo com minha genialidade. Poemas e romances, musicas e filmes, tecnologias e teorias. Incrivelmente magnificas e inventadas por mim, tendo seus autores e inventores sendo meras evaginações da minha imaginação. Camões, Linus Pauling, Marx... tantos genios produzidos por mim ! Que orgulho !

Curiosamente, eu não tenho total controle sobre este universio próprio.Estou preso e condenado a permanecer aqui. Talvez uma penitência. Sei que o universo é meu inferno particular. Uma esfera da qual eu não alcanço a linha de raio e saio pela tangente, não tendo como fugir. Compreendo esta esfera, mas além dela não sei o que há. Talvez outros como eu, criando seus próprios universos paralelos, semelhantes ao meu ou não.Penitentes feito eu ou deuses que me testam neste momento, não sei.

Porém, como uma teoria, existe a possibilidade de se estar enganado. Admito essa possibilidade, mas não acredito nela. Considerando um possivel erro de minha parte, credito este ao ponto de aplicação, não à teoria em si. Sim, o ponto de aplicação, neste caso, seria você, leitor, que deixaria de ser uma projeção minha e tomaria vida própria; logo, eu, personagem insuportavelmente egôcentrica, passaria a ser uma evaginação sua. O mundo giraria ao seu redor, e os fatos aconteceriam somente se você soubesse, não importando o resto. A fome não existiria, a guerra não existiria.

Talvez isso seja uma louca divagação, tentando justificar minha ineficácia de ação sobre um mundo tão cruel e injusto; uma amenização da minha culpa na podridão deste lugar.

Um comentário:

  1. Já pensei ser o centro do mundo várias vezes, cheguei a acreditar que eu ditava as regras do mundo e eu tinha criado com o poder de minha mente todo o universo ao meu redor, confesso que as vezes eu penso nessa possibilidade, mas analisando a vida das pessoas e seus atos chego a uma outra perspectiva, a de que todos fomos criamos por um ser supremo( Deus) e temos que cumprir nossa breve vida aqui, com altos e baixos e buscar um caminho e um sentido para tudo.
    As vezes chego a duvidar de tudo chegando proximo ao pensamento de Descartes, bom a grande certeza que tenho é que estamos aqui e temos que viver nossas vidas e não ficarmos presos ao mundo do imaginario ou do talvez, que pode nos levar a loucura.

    abraços Indio.

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